ECLESIASTES
Você bate na mesma tecla, repete
aquele surrado clichê:
não há nada
de novo sob o sol. Mas quem garante
que isto é real, não
um conto de fada?
Nem tudo tem sido, como se tem ouvido,
a mesma coisa desde o começo
dos tempos. Não estou
convencido.
Se há algo que não muda,
desconheço.
Nem sempre o vento é sul, nem todo rio
segue pro mar. O que está
acontecendo agora,
por exemplo, não era pra acontecer. Ora,
você nunca viu este filme. Fica frio:
Não há nada de novo sob o sol
só para o sol, que é
sempre o mesmo.
Esta é a verdade toda, não
se dissol-
ve numa rima ou pensamento a esmo.
Aqui embaixo, tudo muda, todo dia:
a moda, o medo, e mesmo a luz do sol
passa dias assim, arredia, e me arrepia
pensar que é diferente.
Olha só:
Pare de ficar repetindo isso. Acorda. Mete
em sua cabeça de uma
vez por todas:
nenhum sol se põe
a oeste. E este
poema, eu sei, nem ele existe. É
foda.
Rodrigo Garcia Lopes
Rodrigo Garcia Lopes
2 comentários:
E aqui estamos
no pequeno círculo
com a bagagem de mão
e uma sombra nos calcanhares;
e nós somos eu e você
ou todo mundo;
o círculo é a casa
e a casa
uma certa noção de infinito;
ou a casa é um banco na praça
e um livro à nossa espera.
Não somos mais o sol e o infinito,
mas um fragmento reflexivo.
E aqui estamos
eu e você
no pequeno círculo
esmagados como a sempre rosa
entre as páginas de um livro,
ou no bolso interno
da minha blusa como a sua,
então uma segunda pele.
RICARDO CARRANZA
seu poema. é foda.
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