sexta-feira, abril 03, 2015

Resenha de O TROVADOR em O Globo


O Globo.
Caderno Prosa, 28.3.2015

Veracidade histórica em trama sedutora
Episódio real e pouco conhecido sustenta primeiro romance de Rodrigo Garcia Lopes
ELIAS FAJARDO

        Uma das principais características do romance policial, desenvolvido principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos a partir de 1930, é que o autor vai, ao longo do texto, distribuindo pistas falsas com o objetivo de criar suspense e iludir o leitor sobre a verdadeira identidade do criminoso. Rodrigo Garcia Lopes, poeta, compositor e tradutor, emprega com rigor esta regra em “O trovador”, seu primeiro romance, e a ela acrescenta uma rigorosa pesquisa histórica sobre a colonização do norte do Paraná, um episódio intenso e interessante da nossa história recente. Tema tratado também, aliás, pelo paranaense Domingos Pellegrini Jr. em “Terra Vermelha” (Editora Leya).
       A obra de Pellegrini Jr. é um romance histórico que mostra com intensa dramaticidade como a mata virgem foi avassaladoramente devastada para dar lugar ao plantio do café, e como os personagens foram se transformando neste processo violento. “O trovador” tem o mesmo cenário: a terra vermelha e farta onde as pessoas afundam no barro até os joelhos, a paisagem agreste onde os crepúsculos são longos e melancólicos, e também onde a ambição e a sedução do poder invadem a alma de ricos e pobres. A peça chave do enigma proposto por Rodrigo Garcia Lopes é um poema do autor provençal Arnaut Daniel, escrito num papel encontrado na boca de uma das vítimas de uma série de assassinatos misteriosos.
     A partir dos bastidores reais da década de 30 no Brasil e na Europa, “O trovador” desenvolve uma situação de ficção envolvendo empresas, autoridades e até membros da corte inglesa, entre eles o então rei Edward VIII da Inglaterra, simpatizante do nazismo e sócio de uma empresa britânica colonizadora no norte do Paraná. Neste cenário e numa época em que as comunicações não eram desenvolvidas como o são hoje, os personagens de ficção Lord Lovat, presidente da companhia de terras, e o tradutor e intérprete Adam Blake são enviados a Londrina para esclarecer a origem das mortes e a situação financeira da empresa. O que eles encontram é uma verdadeira Babel sertaneja, onde convivem e entram em choque etnias que vão dos europeus aos asiáticos, e onde não param de chegar advogados, militares, médicos, burocratas, artistas, fazendeiros, cientistas, agricultores e prostitutas vindos das regiões mais longínquas, seduzidos pelo sonho do enriquecimento fácil no novo Eldorado tropical.    
        Utilizando uma linguagem poética que lhe permite, entre outras imagens, comparar o halo em torno da Lua com o centro de uma pupila branca gigantesca, Rodrigo Garcia Lopes consegue sustentar por mais de 400 páginas uma trama rocambolesca, e ao mesmo tempo nos informar, com veracidade histórica, sobre um episódio ainda pouco conhecido no país.


Elias Fajardo é autor dos romances “Ser tão menino”, “Aventuras de Rapaz” e “Belo como um abismo”.

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