quarta-feira, outubro 03, 2007

MARCIAL


Marcus Valerius Martialis nasceu em Bilbao, Espanha, em 1 de março de 40 D.C. por volta do ano de 64 D.C.,tomou o rumo de todos os jovens da época que buscavam fama: Roma. Nessa época já fazia poesia, influenciado principalmente por Ovídio, Calímaco e Catulo. A vida inteira dependeu da grana de seus amigos ricos e de mecenas. Apesar de comum na época, o mecenato contribuiu para "sujar" ainda mais a sua imagem nos séculos seguintes. Seu primeiro livro, "Liber de Spectaculis", foi encomendado por ninguém menos que Nero possivelmente para festejar a inauguração de uma obra faraônica: o Coliseu, em 80 D.C. Marcial registra em seus epigramas a vida exagerada e luxuriante dos romanos, com requintes de sadismo, cenas de sexo explícito, e sem meias palavras. Uma de suas máximas era o célebre dito de Horácio: "carpe diem" (curta o dia). Marcial sempre aconselhava seus amigos a não levar a vida muito a sério. Humor, crítica social corrosiva, concisão: esses os elementos básicos de seus epigramas. (RGL)

* * *

Hic est quem legis ille, quem requiris,
toto notus in orbe Martialis
argutis epigrammaton libellis:
cui, lector studiose, quod dedisti
viventi decus atque sentienti,
rari post cineres habent poetae.



O autor deste livro que você lê
todo mundo sabe: é Marcial,
arguto epigramatista inimitável:
Valeu, meus fãs, por me darem
a fama imparcial que raros poetas
Mereceram enquanto vivos, como eu.

*

Quid mihi reddat ager quaeris, Line, Nomentanus?
Hoc mihi reddit ager: te, Line, non video.

Qual a vantagem, Lino, de viver em outro lugar?
A maior de todas é esta, Lino: não ter que te cruzar.

*

Veientana mihi misces, ubi Massica potas:
olfacere haec malo pocula quam biberi.

Você bebe o melhor vinho, e nos oferece o pior:
prefiro cheirar seu copo que beber do meu.

*
Scribere me quereris, Velox, epigrammata longa.
Ipse nihil scribes: tu breviora facis


Você diz, belo, que meus poemas são longos, não?
Você não escreve nada: isto é concisão?



Omnia promittis cum tota nocte bibiste;
mane nihil prestas. Pollio, mane bibe.

De noite, bebum, promete o mundo,
De dia já esqueceu tudo. Meu bem, beba só de manhã.

*

Inscripsit tumulis septem scelerata uirorum
se FECISSE Chloe. Quid pote simplicius?

Nos setes túmulos dos seus sete maridos
ela deixou escrito: OBRA DE CLÔ.
Pô: como pode ser mais simples?

*

Cum sexaginta Cascellius annos,
ingeniosus homo est: quando disertus erit?

Aos 60 anos, Cacélio tem obra,
Ele promete: Ah é? Quanto ele cobra?

*

Volt, non volt dare Galla mihi, nec dicere possum,
quod volt et non volt, quid sibi Galla velit.

Vai dar dar ou não vai dar? Gala não diz:
o que se passa na cabeça dessa meretriz?

*

Thais habet nigros, niveos Caecania dentes.
quae retio? emptos haec habet, illa suos.

Os dentes de Taís são negros; os de Lacânia, um marfim.
“E o que que tem?” “Lacânia comprou-os ontem”.

*

Et uoltu poteram tuo carere
et collo manibusque cruribusque
et mammis natibusque clunibusque,
et, ne singula persequi laborem,
tota te poteram, Chloe, carere.

Isso, leva tua cara, leva teu cu,
pescoço, leva teus braços, leva tuas
ancas, tua bunda, tuas tetas.
E, antes que eu me esqueça,
Clô, leva você também.

*

Audieris in quo, Flacce, balneo plausum,
Maronis illic esse mentulam scito.

Vindos da sauna, uivos, aplausos, risos:
A pica de Marino é o motivo.

*

Pulchre valet Charinus et tamen pallet
parce bibit Charinus et tamen pallet.
bene concoquit Charinus et tamen pallet.
sole utitur Charinus et tamen pallet.
tingit cutem Charinus et tamen pallet.
cunnum Charinus lingit et tamen pallet.

Carino tem saúde e continua pálido.
Carino enche a cara e continua pálido.
Carino pega sol e continua pálido.
Carino enche a pança e continua pálido.
Carino se maquia e continua pálido.
Carino lambe cu e continua pálido.

*

Miraris veteres, Vacerra, solos,
Nec laudas nisi mortuos poetas
Ignoscas petimus, Vacerra: tanti
Non est, ut placeam tibi, perire.

Você, Vacerra, incensa só poetas
mortos. Seu elogio não me assusta.
Não vale a pena morrer por você,
seu filho da puta.




Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

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