domingo, setembro 30, 2007

De DESTERRA, de Paul Auster


De Unearth (1970-1972)

1

Junto com suas cinzas, as que nem foram

escritas, obliterando

a ode, as raízes excitadas, o olho

forasteirocom mãos imbecis, te arrastaram

pra cidade, te amarraram nesse

de gíria, e não te deram

nada. Tua tinta aprendeu

a violência do muro. Exilada,

mas sempre no coração

do sossego, seu irmão, mendigas as pedras

da terra invisível, e alisa seu lugar

entre os lobos. Cada sílaba

é um trabalho de sabotagem.



Along with your ashes, the barely

written ones, obliterating

the ode, the incited roots, the alien

eye — with imbecilic hands, they dragged you

into the city, bound you in

this knot of slang, and gave you

nothing. Your ink has learned

the violence of the wall. Banished,

but always to the heart

of brothering quiet, you cant the stones

of unseen earth, and smooth your place

among the wolves. Each syllable

is the work of sabotage.

quinta-feira, setembro 27, 2007

4 poemas de Jim Morrison



PEGADAS INTACTAS



Ela mora na cidade

submarina

Prisoneira dos piratas

prisioneira dos sonhos

Quero estar c/ ela

quero que ela veja

As coisas que eu criei

conchas que sangram

Sementes sensíveis

De navios de guerra impossíveis


Libélula paira

& oscila & provoca

as algas & suas asas

furiosamente terríveis







BEM-VINDOS À NOITE AMERICANA



Bem-vindos à Noite Americana

onde cães mordem

para encontrar a voz

a face o futuro a fama

que A Noite

doma

num carro silencioso e macio e

luxuoso

Caroneiros fazem fila na Auto-estrada





O DESERTO



O Deserto

— azul cor-de-rosa metálico

& verde inseto


espelhos vazios &

poças de prata


um universo

num corpo




ENCRUZILHADA



Cruzando você no portão paterno

Diremos o que você deve fazer

O que deve fazer

para sobreviver


Abandone as cidades podres

de seu pai

Abandone os poços envenenados

& ruas manchadas de sangue.

Entre nesta doce floresta.




JIM MORRISON

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes


sábado, setembro 22, 2007

Para mim, Roberto Piva é um gênio de um poeta. Muito pouco reconhecido, finalmente agora parece que há sinais. De Saturno. Se tivessemos no Brasil o reconhecimento que alguns raros artistas fundamentais conseguiram em vida, como um Allen Ginsberg, nos EUA, Piva seria o nosso Ginsberg. Nosso Pasolini e Rimbaud. Nosso Dante de Santa Cecília. E que poeta. Piva se traduz em alta voltagem lírica, xamânica. Turbulento, incômodo, essencial. E ele está fazendo setenta anos. Aqui vai minha homenagem ao nosso templário com um poema que escrevi, publicado no livro Nômada.



PAULICÉIA REVISITADA

para Roberto Piva


Esta chave abre brechas na realidade

É a tarde suicida atropelando os escombros da cidade sitiada

Eu ou meu outro acenando girassóis na multidão ensandecida

É a marcha das Imagens vazias presas aos ferros, levando pedradas,

Dor coroada como índios em brasa nas calçadas do ressentimento

E o bisturi que divide o sangue com bastões bíblicos sobre o pôr-do-sol gelado

E é a senha do falo, lugar de força & delírio

Falésia-edifício que despenca sem ruído e mergulha em sua poeira paranóica

Um delicado caos filtrado em preto-e-branco na escala progressiva da mente

Esta chave se transforma nisto, nervo exposto, numa realidade de palavras

Que exorcizam a saraivada de graça das igrejas capitalistas

É a extensão da alegria náufraga entre bruscas ondas negras

É o link de todas as conversas mantidas no mundo neste instante

São as marcas na pele dilatada com seu nome escrito a sangue

É meu amor moribundo no abismo, dedilhando o banzo de seu exílio atroz

É a noz de uma palavra que explode como um ácido espelha sua linguagem vermelha

É o trânsito franco-atirador e a muvuca das esquinas com fumadores de crack descendo ao inferno num teatro de guerra a céu aberto

É o silêncio depois do gozo das fábulas invertidas da verdade ambulante

Esta chave guarda o pólen que o enxame não seqüestrou, é carne translúcida,

É o exame minucioso da alma em seu recuo trêmulo sobre o elevado invisível flashback

Não é câmera digital, mas abraça o mundo em sua estranheza absoluta mesmo assim

Chave que abre a porta dos ecos e nomes secos sobre as heras eternas


sexta-feira, setembro 21, 2007

ROBERTO PIVA faz 70 anos



Em homenagem aos 70 anos do poeta paulistano Roberto Piva, a Casa das Rosas, em São Paulo, promove na próxima terça-feira, dia 25 de setembro a partir das 19h30, um recital, gratuito e aberto ao público, com a presença do autor e de convidados. Leitor de Dante Alighieri e da poesia beat, estudioso da fauna brasileira e dos discos voadores, escatológico e sublime, pansexual e ecológico, surrealista e xamânico, Roberto Piva é dos representantes mais singulares da vertente visionária na lírica brasileira contemporânea. Embora passando por diversas transformações, sua poesia se manteve (desde a estréia em 1963, com Paranóia) no patamar do delírio sem jamais perder o vigor.
A homenagem do dia 25 constitui uma espécie de preparação para o lançamento de Estranhos sinais de Saturno, terceiro e último livro da obra reunida de Roberto Piva, a ser lançado no mês de novembro pela editora Globo. Esse livro, que encerra o projeto de edição iniciado em 2005, sob coordenação do crítico e professor da Unicamp, Alcir Pécora, conterá um CD com gravações em aúdio de poemas lidos pelo autor.
No recital, Piva fará uma retrospectiva da sua produção, incluindo inéditos do livro novo. Também participarão da homenagem escritores, editores, críticos e amigos ligados à sua obra. Entre os nomes confirmados, estão Ademir Assunção, Antônio Fernando de Franceschi, Carlos Felipe Moisés, Danilo Monteiro, Fabio Weintraub, Joaci Furtado, João Silvério Trevisan, Luiz Fernando Ramos, Roberto Bicelli, Ruy Proença e Sérgio Cohn, entre outros.

Todos estão convidados!

Data: terça-feira, 25 de setembro de 2007
Horário: a partir das 19h30 - GRÁTIS
Local: Casa das Rosas / Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Avenida Paulista, 37 – próx. à Estação Brigadeiro do Metrô
tels. 11 3285-6986/ 3288-9447

Detective Calvin


segunda-feira, setembro 17, 2007

COYOTE NO ESTADÃO

Coyote celebra 5 anos de saudável independência artística

Entrevista inédita no Brasil de Julio Cortázar e poemas exclusivos de José Lino Grünewald recheiam 15.ª edição da publicação

Em junho de 1984, um mês antes de morrer, o escritor argentino Julio Cortázar concedeu entrevista a Jean Montalbetti, da revista Magazine Littéraire. Inédita no Brasil, a entrevista é um dos trunfos do Dossiê Cortázar, que recheia a 15.ª edição da revista literária Coyote.

'Se minha versão da infância é legítima, é porque falo como uma criança. Sempre tenho 10 anos', disse Cortázar a Montalbetti. A Coyote (52 págs., R$ 10), uma das mais independentes e de maior qualidade do País, está celebrando 5 heróicos anos de existência e essa edição comemorativa traz, além de Cortázar, um poema inédito de José Lino Grünewald, cedido especialmente para a revista por sua viúva, Ecila Grünewald. E mais: poemas do inglês Philip Larkin (traduzidos por Luiz Roberto Guedes), do angolano José Luis Mendonça e do paranaense Jairo Batista Ferreira, textos traduzidos do poeta romano Lucrécio, um lipograma de Bráulio Tavares e fotos de João Urban, entre outras coisas.

'A revista cresceu bastante nesses cinco anos, chegando a diversos países, especialmente da América Latina. Estamos estabelecendo um diálogo intenso com a produção literária e poética do continente, seja da Argentina, México, Chile, Cuba ou dos Estados Unidos, por exemplo. E o que continua nos interessando, além de revelar novos autores, é a parte mais inventiva, radical e crítica dessa produção. Acreditamos que a poesia, a literatura e a arte em geral continuam capazes de provocar abalos sísmicos no real', dizem, em texto distribuído à imprensa, os editores Ademir Assunção, Marcos Losnak, Maurício Arruda Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes.

Em seus cinco anos de existência, a Coyote estima ter publicado mais de 180 poetas, escritores, ensaístas e fotógrafos brasileiros, cubanos, argentinos, uruguaios, peruanos, chilenos, mexicanos, norte-americanos, franceses, irlandeses, ingleses, coreanos, eslovenos, egípcios, espanhóis, árabes e chineses. Entre eles, Sérgio Sant'Anna, Furio Lonza, Nelson de Oliveira, José Agrippino de Paula, Mina Loy, Jim Dodge, e. e. cummings, Charles Bukowski e Frank O'Hara (EUA) e Pedro Juan Gutierrez (Cuba).

Publicou também dossiês com o mexicano Heriberto Yépez, a chilena Cecília Vicuña, a alemã-americana Rosmarie Waldrop, o fotógrafo esloveno Evgen Bavcar e os brasileiros Mário Bortolotto, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Claudio Daniel, Roberto Piva e Chacal. Fotógrafos como Juvenal Pereira, Bernardo Magalhães, Haruo Ohara e Cris Bierrenbach publicaram ensaios em suas páginas.

A Coyote é trimestral e distribuída nacionalmente pela Editora Iluminuras. Pode ser encontrada nas livrarias ou pelo site: www.iluminuras.com.br (email: revistacoyote@uol.com.br).

quarta-feira, setembro 12, 2007

Revista COYOTE comemora 5 anos

Dossiê sobre Julio Cortázar (com poemas e entrevista jamais traduzidos para o português), inéditos de José Lino Grünewald, Bráulio Tavares, Márcio Américo e do angolano José Luis Mendonça, e poemas traduzidos de Philip Larkin, são destaques da 15a edição da revista londrinense



A revista literária COYOTE está comemorando 5 anos de existência mantendo a orientação de radicalidade tanto editorial quanto gráfica. Em sua décima-quinta edição traz um dossiê de 8 páginas sobre Julio Cortázar (fragmentos da última entrevista, concedida a Jean Montalbetti, um mês antes de sua morte, e poemas inéditos em português, traduzidos por Cassiano Vianna), poemas do inglês Philip Larkin (traduzidos por Luiz Roberto Guedes), um fantástico lipograma de Bráulio Tavares e um poema inédito de José Lino Grünewald, cedido especialmente para a revista por sua viúva, Ecila Grünewald.


Procurando encurtar distâncias entre autores de culturas diferentes e épocas distantes, entre criadores mais conhecidos e outros totalmente desconhecidos, e entre linguagens artísticas, COYOTE 15 publica também poemas do angolano José Luis Mendonça e do paranaense Jairo Batista Pereira, traduções do poeta latino Lucrécio, pelo curitibano Mario Domingues, ensaio fotográfico de João Urban, história em quadrinhos de Daniel Caballero e contos do londrinense Márcio Américo, do matogrossense Douglas Diegues, da paulista Marpessa de Castro, do paraense Vicente Franz Ceccim e do carioca Paulo Moreira.


DIVERSIDADE COM RADICALIDADE


“A revista cresceu bastante nesses cinco anos, chegando em diversos países, especialmente da América Latina. Estamos estabelecendo um diálogo intenso com a produção literária e poética do continente, seja da Argentina, México, Chile, Cuba ou dos Estados Unidos, por exemplo. E o que continua nos interessando, além de revelar novos autores, é a parte mais inventiva, radical e crítica dessa produção. Acreditamos que a poesia, a literatura e a arte em geral continuam capazes de provocar abalos sísmicos no real” — dizem os editores Ademir Assunção, Marcos Losnak, Maurício Arruda Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes.


Em seus cinco anos de existência, editada em Lodrnina (PR), COYOTE publicou mais de 180 poetas, escritores, desenhistas, ensaístas e fotógrafos brasileiros, cubanos, argentinos, uruguaios, peruanos, chilenos, mexicanos, norte-americanos, franceses, irlandeses, ingleses, coreanos, eslovenos, egípcios, espanhóis, árabes e chineses. Entre eles destacam-se os brasileiros Domingos Pelegrini Jr, Sylvio Back, Sebastião Nunes, Karen Debértolis, Micheliny Verunschk, Nelson Capucho, Evandro Affonso Ferreira, Sérgio Sant’Anna, Furio Lonza, Nelson de Oliveira, José Agrippino de Paula, Otávio Ramos, André Sant’Anna, Nilo Oliveira, Manoel Carlos Karam, Marcelo Mirisola, Maria Esther Maciel, Neuza Pinheiro, João Gilberto Noll, Marcia Denser e os estrangeiros Mina Loy, Jim Dodge, e. e. cummings, Charles Bukowski e Frank O'Hara (EUA), José Kozer, Reina Maria Rodriguez e Pedro Juan Gutierrez (Cuba), Victor Sosa (Uruguai), Tamara Kamenszain e Hector Viel Temperley (Argentina), Po Chü-i (China), Guillaume Apollinaire e Jacques Roubaud (França), Adonis (Síria), Yi Sang (Coréia), Edmond Jabés (Egito), Leon Félix Baptista (República Dominicana) e Reynaldo Jiménez (Peru).


Publicou também dossiês com o mexicano Heriberto Yépez, a chilena Cecília Vicuña, a alemã-americana Rosmarie Waldrop, o fotógrafo esloveno Evgen Bavcar e os brasileiros Mário Bortolotto, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Claudio Daniel, Roberto Piva e Chacal. Em suas páginas surgiram ainda ensaios fotográficos de Juvenal Pereira, Eustáquio Neves, Haruo Ohara, Avani Stein, Walter Ney, Cris Bierrenbach, Ana Lúcia Mariz, Pena Prearo e Bernardo Magalhães.


Com espírito irreverente e crítico, lançou, por fim, os Movimentos Contra o Adestramento de Idéias, Contra a Globalização dos Vermes, Contra o Pagamento de Mico, Pela Extinção da Picaretagem Artística e Pela Preservação das Ovelhas Negras.



COYOTE é uma publicação da Coyote Edições, editada pelos poetas Ademir Assunção, Marcos Losnak, Maurício Arruda Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes. Projeto gráfico de Marcos Losnak. Tem periodicidade trimestral e distribuição nacional (em livrarias) pela Editora Iluminuras.


COYOTE 15 // 52 pgs. // R$ 10

Uma publicação da Coyote Edições

Vendas em livrarias de todo o país ou pelo site: www.iluminuras.com.br

email: revistacoyote@uol.com.br

PATROCÍNIO: PROMIC - PROGRAMA MUNICIPAL DE INCENTIVO A CULTURA – SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA – PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA (PR)

domingo, setembro 09, 2007

Saiu nova ZUNÁI

Saiu a nova revista ZUNÁI: destaques da edição:

As aproximações da pobreza. O sentido da pesquisa estética hoje, entre a trama do mercado,
da tecnologia e da mídia, por Eduardo Jorge.

Drummond: o pequeno relato do silêncio, por André Dick.

Exercício cotidiano da psicanálise selvagem: dossiê sobre Jomard Muniz de Britto.

Debate: as conquistas da Semana de Arte Moderna já estão superadas?

Galeria: exposição virtual de Miguel Gontijo.

Poesia de vanguarda em Portugal: Ana Hatherly, E. M. de Melo e Castro, Gonçalo M. Tavares.

Traduções: Federico Garcia Lorca, César Vallejo, Rosalía de Castro, Adolpho Montejo Navas.

Como foi que o camelo ganhou sua corcova e Como foi que a baleia ganhou uma grade na boca,
contos de Rudyard Kipling.

Cartas de Berlim, por Simone Homem de Mello.

Zunái, Revista de Poesia e Debates: www.revistazunai.com.br
Editores: Claudio Daniel e Rodrigo de Souza Leão.
Webmaster: Ana Peluso.
Onde encontrar: no ciberespaço.
Preço: inconcebível. Inefável.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Pérola de Leminski



prazer

da pura percepção

os sentidos

sejam a crítica

da razão



quinta-feira, setembro 06, 2007

Raiva É Energia, poema de Ademir Assunção


Um poema do meu amigo Ademir Assunção, publicado em Zona Branca (Altana, 2001):


RAIVA É ENERGIA

para marcelo montenegro



a máquina que move o mundo, o tilintar

de moedas virtuais, cartões de crédito,

senha bancária, fobias sexuais, papos de velhos

sapos peludos, papudos otários dando

de espertos, mirando a terra como campo

de erros, onde crescem heras que enfeitam

os muros, enquanto monturos de gente

azedando no lixo, emporcalham a festança

dos donos de seguros, como se a vida fosse algo

seguro, como se estrelas não se acendessem

no escuro,




quarta-feira, setembro 05, 2007

Lançamento: ARIEL, de Sylvia Plath

Ariel, de Sylvia Plath

Um clássico da poesia contemporânea

Verus Editora lança no Brasil edição restaurada e bilíngüe, com manuscritos originais

A Verus Editora lança no Brasil a inédita edição restaurada e bilíngüe de Ariel, de Sylvia Plath, com o fac-símile dos manuscritos exatamente como ela os deixou antes de morrer, em fevereiro de 1963, recuperados por sua filha, Frieda Hughes. Traduzido por Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo, o livro inaugura a coleção Verus Poesis, que trará ao Brasil obras de poetas já consagrados mundialmente. Ariel é considerado um dos mais profundos e reveladores livros de Sylvia Plath. A maioria dos poemas foram escritos em 1962, ano em que a poeta viveu um surto criativo, estabelecendo-a como uma das principais poetas norte-americanas do século 20.

Além da reprodução dos manuscritos da autora, o livro traz notas aos poemas e também inclui os rascunhos completos do poema-título, “Ariel”, oferecendo ao leitor a oportunidade de acompanhar o processo criativo da poeta. Traz também um á introdução, por Rodrigo Garcia Lopes, e um prefácio, escrito pela filha. Esta publicação possibilita uma reavaliação do legado de Sylvia Plath à luz de seu trabalho original.

Ariel é a principal coleção de poemas de Plath. Foi publicado postumamente, em 1965, por Ted Hughes, ex-marido de Sylvia, que excluiu 13 dos 40 poemas, acrescentando outros 13, mudando a ordem e descaracterizando sua obra.

Plath foi canonizada nas décadas de 70 e 80 pelas feministas, que usaram sua obra para suscitar polêmicas. Quando esse fanatismo passou, pôde-se perceber que sua poesia era realmente única, dotada de um misterioso jorro de eloqüência poética, num equilíbrio entre técnica e emoção. Com esta publicação, o que se pretende é jogar luz sobre seus poemas extraordinários, mostrando que Plath era uma uma artista da palavra em período integral, mais que meramente a poeta “suicidada pela sociedade”. Estes versos ficaram como prova definitiva de sua genialidade poética – de uma escritora exímia, que foi capaz de criar, como poucos, música com a linguagem.

Sylvia Plath conseguiu transformar em poesia tanto assuntos particulares como eventos históricos trágicos. Seus poemas evidenciam as dores de uma vida traumática, marcada pela morte do pai, pelo perfeccionismo e pela competição literária, além da parceria com o marido poeta, sendo a prova do talento dessa poeta que soube unir técnica e emoção, criando uma obra já considerada clássica.

Sobre a autora

Sylvia Plath nasceu em Boston (EUA) em 1932. Graduou-se pelo Smith College em 1955 e ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade de Cambridge, onde conheceu o poeta Ted Hughes, com quem veio a se casar e a ter dois filhos. Esse casamento tempestuoso e traumático, além do temperamento feroz e conflituoso de Sylvia Plath, vão dar origem aos poemas de seu principal livro, Ariel, e também levá-la a cometer suicídio em 1963, em Londres. Sua obra inclui os livros de poesia The Colossus, Crossing the Water, Winter Trees e The Collected Poems, o qual ganhou o Prêmio Pulitzer, além do romance autobiográfico A redoma de vidro.



Ariel

Text Box: Mais informações a imprensa: Jornalista: Giovana Panazzolo (19) 4009-6868 imprensa@veruseditora.com.br Sylvia Plath

209 páginas

14 x 21 cm

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo

ISBN: 978-85-7686-026-

terça-feira, setembro 04, 2007

PEÔNIAS NEGRAS




peônias negras
serenas
quase secas

pombos se aquecem
num resto
de sol

uma planta

luta para
romper a fenda

formigas dragam

uma abelha
ainda viva

o inverno

furta a flor
a cor da fruta

(gestos & acenos

de sombras
não consolam)

a tarde passa

arrasta e deixa
um rastro prata



Rodrigo Garcia Lopes (De Solarium, Iluminuras, 1994)

domingo, setembro 02, 2007

ATÉ SEGUNDA ORDEM, de Paulo Henriques Britto

O carioca Paulo Henriques Britto é, na minha opinião e na de muita gente também, um dos principais poetas e tradutores brasileiros. Gosto muito deste poema, em clima de história de suspense:




Até segunda ordem


(10 de outubro)


Até segunda ordem estão suspensas
todas as autorizações de férias,
viagens, tratamentos e licenças.
É hora de pensar em coisas sérias.
Deve chegar mais um carregamento
até o dia quinze, dezesseis
no máximo. Fui lá em Sacramento,
mas não deu pra encontrar com o tal inglês -
será que alguém errou o codinome?
Confere aí com quem organizou
o negócio todo. Bem, amanhã
a gente se fala, que agora a fome
está apertando. (Ah, o padre adorou
o canivete suíço de Taiwan.)


(9 de novembro)


Tudo resolvido. O campo de pouso
até que é razoável. Mas o tal de
Carlão, hein, vou te contar. É nervoso,
não sei; parece que sofre de mal de
Parkinson, ou coisa que o valha. Mas isso
é o de menos. O pior é que o "Almirante"
desde terça tomou chá de sumiço.
Não sei que fim levou; é preocupante.
Chegou a encomenda de Lisboa.
O número de 318.
A senha: "O olho esquerdo de Camões
não vale uma epopéia."(Essa é boa!)
Não agüento mais ter que jantar biscoito.
No mais, tudo bem. Aguardo instruções.


(21 de dezembro)


Sim, recebi a carta do João.
Só que o seu telefonema da sexta
já havia alterado a situação
completamente. É, o Bento é uma besta,
mas você, também... Nessas horas é que se
vê que falta faz um profissional.
Você nunca vai ser como era o Alex.
Mas deixa isso pra lá. O principal
é que o negócio está de pé, ainda.
O que não pode é pôr tudo a perder
a essa altura do campeonato.
Não diga nada, nada à dona Arminda.
Toma cuidado. Conto com você.
Aguarde o nosso próximo contato.


(12 de janeiro)


Por que ninguém me deu um aviso?
Pra quê que serve essa porra de bip?
Assim não dá. Que falta de juízo,
de... de... sei lá! Eu lá em Arembipe
dando duro, e vocês aí de pândega!
O deputado, é claro, virou bicho,
e não vai mais ajudar lá na alfândega.
Meses de esforço jogados no lixo!
E agora? E o alvará do "Três Irmãos"?
E os dez mil dólares do Mr. Walloughby?
Não vou nem falar com o doutor Felipe.
Vocês que agüentem o tranco. Eu lavo as mãos.
Se alguém me perguntar, eu tenho um álibi
perfeito: "Eu estava lá em Arembipe".


(19 de janeiro)


Até esta chegar às suas mãos
eu já devo ter cruzado a fronteira.
Entregue por favor aos meus irmãos
os livros da segunda prateleira,
e àquela moça — a dos "quatorze dígitos" —
o embrulho que ficou com o teu amigo.
Eu lavei com cuidado o disco rígido.
Os disquetes back-up estão comigo.
Até mais. Heroísmo não é a minha.
A barra pesou. Desculpe o mau jeito.
Levei tudo que coube na viatura,
mas deixei um revólver na cozinha,
com uma bala. Destrua este soneto
imediatamente após a leitura.



PAULO HENRIQUES BRITTO

MEDUSA, de Sylvia Plath

“Medusa” (escrito em 28 de outubro de 1962) é um complexo poema de Sylvia Plath. O poema se desenvolve e avança -- como um organismo vivo -- através de intrincadas metáforas, ao modo da poesia metafísica inglesa (como em Donne). Primeiro, a “Medusa” do título pode se aplicar, simultaneamente à Medusa da mitologia grega (a bela mulher que, por ter ofendido a deusa Atena, foi transformada por esta num monstro com cabelos de serpente e face tão horrível que transformava em pedra todos que a olhassem diretamente. Perseu foi capaz de cortar a cabeça da Medusa sem olhar diretamente para ela, vendo-a através do reflexo em seu escudo); à medusa marinha: água-viva, "forma livre-natante e pelágica de alguns cnidários, caracterizada pelo corpo gelatinoso, que lembra um sino ou um guarda-chuva, com tentáculos na margem, lado convexo voltado para cima e boca localizada no centro da superfície côncava inferior" (Dicionário Houaiss); à sua mãe, Aurelia Plath, que veio dos Estados Unidos para visitá-la na Inglaterra, no auge da crise do seu casamento com Ted Hughes. Curiosamente, Aurelia aurita é um tipo de água-viva (a da foto abaixo). A habilidade de manipular três metáforas ao mesmo tempo, durante o poema, e sem perder a bronca, sua técnica de fusões metafóricas, fica evidente. É um exemplo de Plath em seu auge, em seus rituais xamânicos, em sua excentricidade e raiva, em sua poesia que parece às vezes uma espécie de exorcismo lapidado.


MEDUSA


Longe dessa península de bocais pétreos,

Olhos revirados por varetas brancas,

Orelhas absorvendo as incoerências marinhas,

Você abriga sua cabeça débil — globo de Deus,

Lente de piedades,


Seus parasitas

Oferecem suas células selvagens à sombra de minha quilha,

Empurrando como corações,

Estigmas vermelhos bem no centro,

Cavalgando a contracorrente até o ponto de partida mais próximo.


Arrastando seus cabelos de Jesus.

Escapei, me pergunto?

Minha mente sopra até você

Umbigo de velhos mariscos, cabo Atlântico,

Se mantendo, parece, em estado de milagrosa conservação.


Em todo caso, você está sempre ali,

Respiração trêmula no fim da minha linha,

Curva d’água pulando

Em meu caniço, ofuscante e agradecida,

Tocando e sugando.


Não chamei você.

Não chamei você mesmo.

No entanto, no entanto

Você veio a vapor em minha direção,

Obesa e vermelha, uma placenta


Paralisando amantes impetuososos.

Luz de naja

Espremendo o hálito das rubras campânulas

Da fúcsia. Sem poder respirar,

Morta e sem dinheiro,


Superexposta, como num raio-x.

Quem você pensa que é?

Hóstia de comunhão? Maria Carpideira?

Não vou tirar nenhum pedaço desse seu corpo,

Garrafa aonde vivo,


Vaticano espectral.

O sal quente me mata de enjôo.

Imaturos como eunucos, seus desejos

Sibilam para meus pecados.

Fora, fora, coleante tentáculo!


Não há mais nada entre nós.




SYLVIA PLATH

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo (do livro Ariel, a sair pela Verus Editora)

sábado, setembro 01, 2007

DANÇA RITUAL DA MENTE (de Polivox, 2000)


DANÇA RITUAL DA MENTE


*


olho: câmera nervosa cruzando o deserto

em azul e branco: postal

de areia & cactus

telepáticos

(captá-los)

a mente atenta entre painéis movediços . . .

Shiva e suas danças secretas . . .

crianças invisíveis entre dunas

flutuantes

espirais de areia & vento

música do silêncio

vertigem & zoom: oásis.


*


branco: sobrevôo de penas ágeis

um papa-léguas

entre saguaros eletrônicos

penumbra na página sonora, mojave,

puro jade

gota d'água

(miragem)

em minha língua,

intacta pupila:

viagem...

um contato imediato

do terceiro grau.

Nuvens imóveis:

paisagem em cinemascope.

“A vida real”

vista através de um óculos

tridimensional:

Wittgenstein

num Pontiac -

turista acidental:

latas de cerveja na auto-estrada.



*


escuro: vulto no deserto.

viro-me:

nada vejo

a lua me encara

sem dizer nada

com sua máscara nô.







Rodrigo Garcia Lopes (poema de Polivox, Azougue, 2000)