segunda-feira, abril 16, 2012

Poema inedito


ECLESIASTES

Você bate na mesma tecla, repete
aquele surrado clichê: não há nada
de novo sob o sol. Mas quem garante
que isto é real, não um conto de fada?

Nem tudo tem sido, como se tem ouvido,
a mesma coisa desde o começo
dos tempos. Não estou convencido.
Se há algo que não muda, desconheço.

Nem sempre o vento é sul, nem todo rio
segue pro mar. O que está acontecendo agora,
por exemplo, não era pra acontecer. Ora,
você nunca viu este filme. Fica frio:                                                                   
Não há nada de novo sob o sol
só para o sol, que é sempre o mesmo.
Esta é a verdade toda, não se dissol-
ve numa rima ou pensamento a esmo.

Aqui embaixo, tudo muda, todo dia:
a moda, o medo, e mesmo a luz do sol
passa dias assim, arredia, e me arrepia
pensar que é diferente. Olha só:

Pare de ficar repetindo isso. Acorda. Mete
em sua cabeça de uma vez por todas:
nenhum sol se põe a oeste. E este
poema, eu sei, nem ele existe. É foda.




Rodrigo Garcia Lopes

2 comentários:

  1. E aqui estamos
    no pequeno círculo
    com a bagagem de mão
    e uma sombra nos calcanhares;
    e nós somos eu e você
    ou todo mundo;
    o círculo é a casa
    e a casa
    uma certa noção de infinito;
    ou a casa é um banco na praça
    e um livro à nossa espera.
    Não somos mais o sol e o infinito,
    mas um fragmento reflexivo.
    E aqui estamos
    eu e você
    no pequeno círculo
    esmagados como a sempre rosa
    entre as páginas de um livro,
    ou no bolso interno
    da minha blusa como a sua,
    então uma segunda pele.

    RICARDO CARRANZA

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