sexta-feira, julho 30, 2010

SOBRE UM DITADO ANTIGO (Rodrigo Garcia Lopes)


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ÚLTIMA NOITE DO PROJETO A VOZ DA POESIA



Parcerias: a Voz da Poesia - 2ª edição
Na última noite de sua segunda edição, o projeto Parcerias: a Voz da Poesia, apresenta o poeta Edson Cruz e o compositor Reynaldo Bessa. Os dois participam de um bate-papo de meia hora sobre poesia e música e, em seguida, o compositor apresenta seu show dando ênfase em poemas musicados. Este ano, o projeto contou com as apresentações de Geraldo Carneiro/Francis Hime, Braulio Tavares/Antonio Nóbrega, Maurício Arruda Mendonça/Bernardo Pelegrini, Marcelino Freire/Lirinha, arrudA/Alzira E. e Celso de Alencar/Tom Canhoto.
Idealização e curadoria: Ademir Assunção
31 de julho (18h30) – Reynaldo Bessa e Edson Cruz
 
Reynado Bessa Reynado Bessa, cantor, compositor e poeta , tem cinco cds lançados, entre eles Angico (2000), O Som da Cabeça do Elefante (2007) e Com os Dentes (2008). Tem músicas gravadas pela banda Ira e Rita Ribeiro. Publicou o livro de poemas Outros Barulhos (2009)
   
Edson Cruz Edson Cruz (Ilhéus, BA). Escritor, editor e revisor. Estudou Psicologia, Música, Composição e Letras. Fundador e editor do portal Cronópios (até maio de 2009) e da revista literária Mnemozine. Publicou Sortilégio (2007) e organizou O que é poesia? (2009).
 
Local: BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
Avenida Henrique Schaumann, 777 – Fone 3082-5023
Entrada franca
Veja o mapa
Prefeitura da Cidade de São Paulo
BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA
 

ILUMINURAS ENTRE AS MELHORES

terça-feira, julho 27, 2010

LANÇAMENTO: LIVRO DE POEMAS DE MÁRIO BORTOLOTTO






Ainda não tenho o meu, mas já vi na mão de um amigo. Publicamos uns inéditos na última Coyote. Para quem estiver em São Paulo, vale a pena dar um pulo nos lançamentos. Um bom lugar pra morrer é o nome do livro, numa edição bem cuidada das  editoras Atrito Art / Electra Kan. Na sexta-feira, na Mercearia São Pedro (Rua Rodésia, 34 – Vila Madalena), das 19 horas em diante.  No sábado, na Coletivo Galeria (Rua dos Pinheiros, 493 – Pinheiros). 
E uma canja de Marião e a banda Saco de Ratos Blues.

E aqui um de meus favoritos do livro:


ÓPERA DOS POMBOS SEM DESTINO

Eu moro no sótão onde os pombos morrem
Eu deixo a janela aberta
                e deixo que eles venham morrer a meus pés
Eles entram voando e me olham
               com seus olhos tristes de pombo
Como eu posso ser feliz com todos esses pombos mortos
            abandonados por Deus
Gostava quando eles se chocavam contra o pára-brisa
Pombos desgovernados sempre me fascinaram
Esses pombos com destino certo
eles me deixam com os olhos cheios de lágrimas
vez ou outra um avião passa no céu
e os pombos sonham com lugares nunca visitados
Um dia os pombos desaparecerão
terão voado para algum lugar inatingível
não haverá mais pombos
e alguém irá contar histórias sobre pombos
os seus cadáveres espalhados no chão do meu sótão
receberão visitas apaixonadas
mas pra mim o que vai ficar
será a lembrança dos pombos na minha caixa de correio
pombos que se recusaram a saber o caminho
pombos que Deus há de acolher
pombos dos quais sempre vou me lembrar
ouvindo ópera no sótão
meu sótão de pombos sem destino


MÁRIO BORTOLOTTO

sexta-feira, julho 23, 2010

A DEUSA BRANCA


A DEUSA BRANCA



A deusa lua entra no salão de espelhos, em transe:
para onde olha, linguagem (vibrátil), estranhos

estilhaços de um corpo que mutua-

mente se reflete: até o infinito. &
feitos da mesma imagem
(que se rebate)
até o infinito.

Um jogo de tênis nas galáxias.
Num estuário branco

a imagem da TV no cenário vazio
é resíduo de sonho.
A Memória pergunta-se do antes,
antes dos espelhos se espatifarem
na praia do universo.

No Livro dos Mortos, Antes era o nome
de um local desconhecido
onde se adorava a Boa-Luz.

"Foi a deusa lua, a mesma que
ao refletir-se numa quina de linguagem
e querer-se ilha
fez de si um eclipse de possibilidade".


(   (  (   O  )    )    )


"Não há tempo nem história, aqui".

Quer dizer que o tempo
é agora?"

"O poema é uma verdade portátil".






Rodrigo Garcia Lopes (Em Polivox, Azougue, 2001)



sexta-feira, julho 16, 2010

DE HARO SOBRE POESIA


"Nada é tão difícil quanto uma flor", você escreveu num poema. Nestes tempos superficiais e apressados, não parece que a poesia parece perder visibilidade e status enquanto forma de conhecimento e arte?

Hoje eu diria que, pelo contrário, nada é mais fácil e mais espontâneo quanto uma flor. Nem mais fácil. Percebi há alguns dias que a forpa da janela do meu quarto, pesada forpa de velho cedro ressecado pelo tempo, acabara de brotar. Primeiro foram duas folhas magras, minúsculas, saindo de uma greta. Logo subiu um talo, em poucos dias encorpou, deitou folhas e finalmente lançou dois brotos sem cerimônia, no tempo devido, eclodiram em duas minúsculas flores de arnica amarela. Acontece que a poesia é irredutível às formas do pensamento descartável, ao joguinho perpétuo do aturdimento pop televisivo pós-ervilha mental. Poesia -- sendo uma disciplina mágica, de concentração e fé no tempo da palavra -- não pode nem deve abdicar de sua respiração própria a fim de alcançar as gratificações e as benesses das paradas de sucesso. Graças ao bom Baco que é assim! É preferível ficar o poeta protegido disso tudo. Nem Fernando Pessoa nem Kavafis se preocuparam com estas formas externas mas perversas da fama, sempre alheia a qualquer identidade. Status, visibilidades? Aprendi, e creio sinceramente, que qualquer palavra (muito mais um verso!) uma vez escrita ou solta no ar circula, circula, e ao fim de seu périplo irá alojar-se no coração predestinado de alguém. O destino da verdadeira poesia é o destino de cumprir seu destino. Importa a penumbra. 



Trecho da entrevista do poeta e artista plástico RODRIGO DE HARO, no dossiê publicado na revista COYOTE

domingo, julho 11, 2010

OTHER SHORES


    foto de Rodrigo Garcia Lopes




OUTRAS PRAIAS




1



O ar do verão vibrava como imitação
que os dedos do maestro regiam, Além,
(uma outra palavra para Adeus)
E sua ausência imediata, que são próprias
das coisas consideradas fora de seus centros;

Náufragas, como ilhas dispersas circundadas
por tanta Luz, e o mar hibernando o surf
das manobras rápidas, radicais, engolindo praias,
prises e personas
Uma tontura que persiste após
o estrondo doce do amor, antes e agora dobrando-se no Tempo

Tudo a caminho, tudo rápida passagem, impressões,
a textura da areia, seixos
ao redor do sexo que é tudo e que sustém em linguagem
Viva, a linguagem das marés e dos exercícios estratégicos do vento
que uiva às coisas e nomeia lagoas e dunas, uma gíria imaginária

O mar da página de jornal, gaivotas
bicando lâmpadas à procura de águas vivas, quebrando-se
Cristais,
& uma visão do vórtex do vir-a-ser distraindo
as cores excessivas, todo ornamento inútil, recolhidas em
fotografias dinâmicas, e que se revelam lentamente em suas
ausências em fuga, como nós, aos pés destas pedras, refletindo-nos
na mudança desse poço, em sua condição.

O que vemos daqui são gestos que querem o além
-- o reflexo de erras nunca vistas,
brisas nunca sentidas, uma viagem
sem volta a territórios livres, como nômades detidos
no meio de uma tempestade obsessiva. O que
carregamos são espelhos que refletem sempre
o diferente, enquanto nós, eu e você
mudamos juntos. Nuvens
dissipam-se em doces fragmentos, sentidos acenam
do outro lado da baía, onde estivemos
Há alguns instantes que ficaram

Misturados com a lembrança do instante diferenciado,
um ideograma na fumaça do cigarro, o haikai mais simples
recolhido num vazio que vibra, diz, e muda.
Um brilho secreto, isso o mar também nos traz
sem cobrança alguma
e além do privado e do profundo jaz
o não dito, o asburdo de calar, o conferido:
penínsulas e abraços

de mar, studio marinho. E o modo como ele
endereça suas maresias a nós mudos e humanos
com seu estilo que no fim revela ser apenas
a mancha do mar em sua blusa, uma blueprint, um sim.




2



O Agora voava, deixando nossas respostas
sem pergunta alguma.
Acabamos nos cruzando, a caminho da estação
onde nada se detém, na luz que grita atrás das montanhas,
No som de nossas vozes e olhares assustados
como sempre
Sílabas apagando beijos como a maré faz com nossas pegadas
recolhendo
Apenas o silêncio, o silêncio.
Registros de amanheceres sendo
Eternamente abertos para agentes secretos
Até que a página se vire como onda

Deixando paisagens no retrovisor
Longe de qualquer ideal de tansparência ou nostalgia.

Linhas que nada são a não ser a trajetória das gaivotas
Deliciadas com as horas que ainda restam antes do pouso.
Primeiro dia de sol, a casa está vazia.
Tesouras repousam quietas ao lado de
Gencianas. Nova Geografia. A cena
Está quase completa, viva nos músculos que apanham rápido
um clichê qualquer no ar, uma sombra. A voz, cada vez mais,
Se estilhaçava, ficando assim impossível dizer
Quem falava ou soprava o vento
no stylos das árvores rabiscando um céu
que não era bem assim
O que se queria dizer, um espaço implodido a cada passo
Dentro do corpo onde a natureza sopra seu processo
As sentenças do mesmo rio nunca o mesmo rio
Códigos nascidos sem qualquer charme, e a gravidade
De tudo o que prossegue, indestrutível, viagem.




3



Aqui o céu é fino feito papel.

Regras se dissolvem como uma velha palavra na boca
velha manhã com um gosto de folhas secas na boca
Muito viva vívida doce e muito viva
distribuindo seu teatro, lírica barata, seu Gesamtkuntswerk,
nos telhados onde pássaros respiram, quietos,
sendo observados por gatos negros e cantados obsessivamente por
sons secos pela estação dos sustos, para além de si, desejo
de um presente acelerado como as ondas deste
doce Desterro,
O modo vazio e pleno como o olhar
faz
de tanta luz
o ar vibrar

Nos sentimos Oceanos, Pan, nos sentimos mais humanos
& sacamos
parte da hera tomando a janela onde pouco ou nada é dito
Apenas sentido, o limite de um "ouvir-se dizer"
que já não diz, reprisa
Velhas cenas de um teatro previsível.
Apenas o espectador mudou no fim de tudo
E as estações se amontoam num canto do céu esperando
Um milagre, uma confortável
Invisibilidade, que não tem nada a ver com
O excesso desse sol depois de três dias de chuva
Três úmidas palavras sussurradas e conduzidas como o vento faz

Às nuvens, nada necessariamente difícil ou vazio
gruda à pele, livre
De qualquer engodo, assinatura, assunto.
Horas e horas de vidro, sentenças sem nome flutuam
no manso ar do verão do interior e suas diferenças
Vêm à tona, enfim, o que nos deixa ao menos
uma chance para ouvir uma chuva invisível
atrás da porta pela qual acabamos de passar.






                                                                          Tempe/Arizona - Ilha do Desterro/Floripa (1992)




Rodrigo Garcia Lopes
Poema de Solarium (Iluminuras, 1994). 

sábado, julho 10, 2010

OBAMA SABIA

JAIRO BATISTA ESCREVE SOBRE "ARIEL", DE SYLVIA PLATH

Meu amigo, o escritor e poeta Jairo Batista Pereira, incansável anjo vingador dos poetas, acaba de republicar, no site PALAVRAS, TODAS PALAVRAS, um artigo alentado sobre a tradução (minha e de Cristina Macedo) de ARIEL, de Sylvia Plath, que saiu em 2007 pela Verus.

Para quem se interessar, acesse 









sexta-feira, julho 09, 2010

OS MENSAGEIROS (poema de Sylvia Plath)


Palavra de lesma em prato de folha?
Não é minha. Não a aceite.

Ácido acético em lata selada?
Não o aceite. Não é genuíno.

Anel de ouro e nele o sol?
Mentiras. Mentiras e uma dor.


Geada numa folha, o imaculado
Caldeirão, estalando e falando

Sozinho no topo de cada um
Dos nove Alpes negros,

Um distúrbio nos espelhos,
O mar estilhaçando seu cinza -


Amor, amor, minha estação.





 



SYLVIA PLATH
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Cristina Macedo, em "Ariel", edição restaurada e bilíngue, com os manuscritos originais. Verus Editora, 2007.

quinta-feira, julho 08, 2010

terça-feira, julho 06, 2010

RAZA URUGUAIA

http://globoesporte.globo.com/Esportes/foto/0,,19898163-EX,00.jpg
Brava equipe, prejudicada pela arbitragem que nesta copa fez tantas vítimas e resultados.

NADA COMO UM DIA ATRÁS DO OUTRO

O

sábado, julho 03, 2010

BYE BYE, BLACKBIRD











PAULICÉIA REVISITADA

                 para Roberto Piva




Esta chave abre brechas na realidade

É a tarde suicida atropelando os escombros da cidade sitiada

Eu ou meu outro acenando girassóis na multidão ensandecida

É a marcha das Imagens vazias presas aos ferros, levando pedradas,

Dor coroada como índios em brasa nas calçadas do ressentimento

E o bisturi que divide o sangue com bastões bíblicos sobre o pôr-do-sol gelado

E é a senha do falo, lugar de força & delírio

Falésia-edifício que despenca sem ruído e mergulha em sua poeira paranóica

Um delicado caos filtrado em preto-e-branco na escala progressiva da mente

Esta chave se transforma nisto, nervo exposto, numa realidade de palavras

Que exorcizam a saraivada de graça das igrejas capitalistas

É a extensão da alegria náufraga entre bruscas ondas negras

É o link de todas as conversas mantidas no mundo neste instante

São as marcas na pele dilatada com seu nome escrito a sangue

É meu amor moribundo no abismo, dedilhando o banzo de seu exílio atroz

É a noz de uma palavra que explode como um ácido espelha sua linguagem vermelha

É o trânsito franco-atirador e a muvuca das esquinas com fumadores de crack descendo ao inferno num teatro de guerra a céu aberto

É o silêncio depois do gozo das fábulas invertidas da verdade ambulante

Esta chave guarda o pólen que o enxame não seqüestrou, é carne translúcida,

É o exame minucioso da alma em seu recuo trêmulo sobre o elevado invisível flashback

Não é câmera digital, mas abraça o mundo em sua estranheza absoluta mesmo assim

Chave que abre a porta dos ecos e nomes secos sobre as heras eternas







Rodrigo Garcia Lopes
(Em Nômada, Lamparina, 2004)

(Minha homenagem 

ao grande poeta 

ROBERTO PIVA)